Número 1
Esotericamente se diz que o UM não é por si mesmo manifesto e por isto ele não tem existência real para a nossa consciência. Vejamos o que isto significa.
Quem observar um pássaro pousado sobre um cabo elétrico facilmente nota que nunca acontece uma eletrocussão. Não acontece porque a ave não está ligada a terra, ou a um outro fio com diferença de potencial. Quando o pássaro está pousado em apenas um dos fios nada acontece com ele porque a eletricidade está para ele em fase que podemos chamar "fase um". Somente quando uma outra situação se estabelece, que é a presença de um segundo fio por onde também escoe corrente elétrica com um diferente nível (diferença de voltagem), é que acontece algo, isto é, a eletricidade se torna manifesta e passa a existir realmente para a ave. Não sendo assim ela não sofre a mínima ação de qualquer coisa que exista ou que ocorra no fio em que está pousada.
Alguém que esteja sem contato com um segundo cabo ou com o solo não tem condições de saber diretamente se este está ou não está eletrificado. É absolutamente impossível sabê-lo, pois, naquela situação o fio é simplesmente um arame.
Vale notar o seguinte; mesmo que a ave nada sinta, ou que uma pessoa nada sinta, mesmo assim não há garantia de que um determinado fio esteja sem corrente. Absolutamente, o que ocorre é que apenas não há manifestação da corrente por falta de meios para evidenciá-la. Pode acontecer que entre o fio e o solo, ou que entre um fio e outro haja diferença de potencial, haja diferença de voltagem, então quando um contato for estabelecido com aquele segundo elemento, é que surgirá o "choque elétrico", a descarga elétrica se tornará real. Enquanto não houver o segundo elemento nada se saberá a respeito da presença ou não da corrente. Corrente elétrica em UM só fio, mesmo que em elevadíssimo nível de intensidade, não aquele uma resistência elétrica, não acende uma lâmpada, não faz girar um motor e nem gerar qualquer tipo de trabalho. Para que ela faça tais coisas é necessária a presença de um SEGUNDO fio. Por esse exemplo podemos dizer que a corrente elétrica está para o pássaro numa primeira condição, numa condição UM.
Evidentemente no fio existe algo, que a pessoa não se dá conta. Tomando-se UM só fio indiscutivelmente nele poderá "existir eletricidade", contudo esta estará imanifesta, razão pela qual não é possível se ter percepção direta dela.
Se numa sala escura colocarmos qualquer objeto negro, evidentemente este não será visível. Ele se comporta como se não existisse, embora esteja lá. Porém se clarearmos o objeto negro então ele se tornará visível.
Na primeira situação ele está na fase UM em relação à consciência, e quando clareamos criamos uma condição oposta, isto é, introduzimos o elemento DOIS que permite que o objeto (elemento UM) se torne visível. A recíproca é verdadeira, se clarearmos a sala o objeto aparecerá e passará a existir para a consciência objetiva.
Para demonstração prática da imanifestação de algo em condição UM, sugerimos o seguinte experimento: Tome um recipiente de vidro, uma lâmina de vidro que possa ser colocada dentro do recipiente, e uma certa quantidade de água limpa. Em seguida coloque a água no recipiente e a lâmina de cristal dentro dele. Então, se verificará que a lâmina aparentemente some, como que desaparece, isto é, a pessoa deixa de se dar conta dela, é como se a lâmina desaparecesse, deixasse de existir para o observador. Porém, se for modificada a cor da lâmina - condição DOIS - ou a cor diferente da água - então a lâmina se tornara visível. Criando-se uma segunda condição oposta à primeira - cor da lâmina - então o evento se torna conscientizável, se torna visível. No primeiro caso a lâmina é fase UM em relação ao meio liquido em que está imersa. Também poderia ser derramado um corante no recipiente o que faria com que a lâmina de vidro se tornasse visível. O corante age com segundo elemento - o DOIS - sem o qual o evento não é detectado diretamente pelo sentido da visão. Erroneamente alguém poderá julgar que neste experimento o resultado é decorrente de uma incapacidade ou limitação da acuidade do sentido visual, contudo não é isto, pois se trata na verdade da aparente inexistência objetiva de qualquer fenômeno em fase UM.
Examinemos o problema com outro exemplo. A produção de energia hidrelétrica. Suponhamos um lago em uma planície. Lago e terra sem qualquer potencial utilizável. Então elevemos o lago para um planalto e surgirá potencial hidrelétrico capaz de gerar energia. Lago e terra nos dois casos, porém na última situação há o acréscimo de uma segunda situação (DOIS) que é o desnível. O lago pode ser o mesmo, ele pode não mudar em nada quanto a sua natureza de uma para outra situação. A única diferença é que no segundo caso foi introduzida uma situação a mais, independentemente da natureza própria do lago.
No reino animal, nós vamos encontrar o princípio da imanifestabilidade do UM exatamente no mimetismo dos animais. Mimetismo é a capacidade que têm certos animais de tomar as cores do ambiente para se camuflarem e não serem percebidos pelos predadores. Certos lagartos e insetos confundem-se com o meio ambiente tornando-se "invisíveis" ao assumirem a mesma cor da superfície em que repousam. Forma um conjunto de uma só cor, razão pela qual torna-se de difícil visualização objetiva. Em essência o que acontece naquela situação é que o animal se torna uno com o meio, ou seja, ele fica na fase UM em relação ao ambiente.
A partir desse ponto queremos salientar algo muito importante. O UM não significa esotericamente algo inexistente. A fase UM existe realmente, mas apenas ela não pode ser diretamente conscientizada. Nos exemplos que demos é fácil admitir que a eletricidade existe num só fio, que a lâmina embora invisível existe no recipiente, que o animal embora oculto existe verdadeiramente sobre a superfície com a qual se confunde. Por meio de instrumentos que sejam capazes de estabelecer alguma forma de contraste o UM se torna detectável. Assim sendo podemos afirmar que a fase UM existe, mas nunca ela é detectada diretamente. Quando um instrumento a detecta é porque o seu mecanismo estabeleceu alguma forma de contraste, de oposição, que se constituiu uma segunda condição.
Agora suponhamos um hipotético país em que só houvesse uma temperatura uniforme para todas as coisas. Em conseqüência, aquilo que chamamos temperatura jamais seria conscientizado lá. Nunca as pessoas se aperceberiam de algo para denominar temperatura onde ela só se manifestasse em UM só nível. Naquele lugar os seres somente teriam consciência de temperatura se houvessem variações térmicas. Se tudo tivesse uma só temperatura, se todos os climas e todos os objetos tivessem uma temperatura uniforme, constante, digamos 20º C., as pessoas por certo não teriam consciência dela e evidentemente não criariam sequer uma palavra, e muito menos um aparelho, para medir temperatura. Mas, mesmo as pessoas não se dando conta da existência da temperatura, mesmo assim aquele nível de calor existia. Tanto isto é verdade que se alguém de um outro lugar onde existissem variações térmicas lá chegasse ele teria por certo se daria conta da temperatura ambiente e até poderia determiná-la por meio de um termômetro. Para os nativos não haveria consciência de calor, de modo algum eles poderiam entender aquilo que o visitante estivesse falando ou medindo, pois somente conhecendo um nível térmico é que eles teriam consciência de calor. Este seria UM para eles. Certamente nunca se usaria um termômetro num hipotético mundo de uma só temperatura, pois, se descendência ali o calor, jamais surgiria a necessidade de medi-la e de construir um instrumento para medir algo que nem sequer suspeitava-se existir. Este tipo de descoberta só poderia ser feito por raciocínio dedutivo e não por registro objetivo.Temperatura uniforme 20º C seria fase UM.
Como podemos ver, a primeira manifestação de qualquer coisa é exatamente aquilo que se pode definir como o um esotérico.
Se todas as coisas do mundo, por exemplo, fossem igualmente verdes ninguém se aperceberia daquilo que chamamos cor, embora ela existisse realmente. Se num dado momento surgisse uma outra cor, o azul, por exemplo, só então as pessoas se aperceberiam de que algo estava existindo, perceberia que duas coisas estavam existindo, o verde e o azul, e então haveria a consciência de cor.
Diante de uma situação isolada nunca será perceptível a fase um por isto se diz que o um não tem existência real. Tem existência num sentido absoluto - como uma atualidade - pois desde que é passível de ser detectado dedutivamente, ou por meio de instrumentos, etc., mas num sentido relativo, isto é, em relação à consciência objetiva dos seres tudo se passa como se não existisse.
O UM representa a primeira fase da evolução de qualquer coisa que só se torna manifesta e conscientizável quando surge uma diferença de nível, uma polarização, uma segunda situação que lhe sirva de contraste.
Autor: José Laércio do Egito - F.R.C.
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