
Ela está morta há milhares de anos, mas ainda causa problemas. O busto da rainha Nefertiti deu orgulho ao Novo Museu de Berlim, reaberto nesta semana após 70 anos. Agora, Zahi Hawass, diretor do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito diz que Berlim deve devolvê-lo.
DER SPIEGEL
Spiegel On-line: O senhor realmente quer tirar a Nefertiti de sua nova e privilegiada posição no recentemente aberto Novo Museu em Berlim e levá-la de volta ao Cairo?
Hawass: Não dessa forma. Uma questão tão importante não será resolvida apenas com pensamento positivo ou declarações de intenção.
Spiegel On-line: Então, o senhor pediu ou não a devolução da Nefertiti?
Hawass: Ainda estamos estudando a questão e os detalhes relacionados à atual locação da Nefertiti - como a famosa e principal consorte do grande faraó Akhenaten hoje é conhecida. Só teremos uma decisão quando estivermos absolutamente claros sobre isso.
Spiegel On-line: O que exatamente vocês ainda precisam saber?
Hawass: Queremos saber se as esculturas de Nefertiti - e, mais importante, a cabeça da rainha exibida em Berlim - deixaram o Egito legalmente. Quando isso estiver totalmente claro e as evidências diante de nós, então não haverá problemas.
Spiegel On-line: É tão difícil encontrar esse tipo de evidência? Afinal, os responsáveis na capital alemã tentaram ao máximo assegurar que essas esculturas valiosas foram trazidas para Berlim com o conhecimento e acordo de autoridades egípcias.
Hawass: Há cerca de dois meses, pedi à administração do museu em Berlim que compartilhasse os detalhes exatos da "emigração" da Nefertiti e enviasse todos os materiais relativos à legitimidade desse processo. Até hoje, meu pedido não foi respondido. Isso é chato. Que tipo de conclusões devemos tirar? Parece suspeito.
Spiegel On-line: O senhor duvida da legitimidade do transporte da escultura para fora do seu próprio país?
Hawass: Temos evidências que dão base a essa suspeita: que a Nefertiti foi contrabandeada para fora do Egito, contornando a lei. Mas não queremos tirar conclusões prematuras e precisamos esperar uma resposta e alguma outra evidência de Berlim. Contudo, como meus pedidos (de maiores informações) nunca receberam resposta, não quis aceitar o convite para a grande inauguração do Novo Museu.
Spiegel On-line: O que vai acontecer se o senhor não receber uma resposta?
Hawass: Teremos uma conversa como seres humanos civilizados e discutiremos todos os aspectos deste caso.
Spiegel On-line: É verdade que vocês estariam dispostos a trocar -enviar a Nefertiti de volta ao Egito e enviar a Berlim outros artefatos antigos egípcios importantes em troca?
Hawass: Essa é uma ideia recente. De fato, o governo egípcio sugeriu uma solução desse tipo cerca de 10 anos após a Nefertiti vir para a Alemanha, mas Berlim declinou.
Spiegel On-line: Há algum tipo de acordo com os alemães que, pelo menos em cinco anos, a Nefertiti será emprestada ao Cairo em tempo para a dedicação do novo museu Egípcio?
Hawass: Nada está estabelecido. Ouvi um rumor que o empréstimo de peças antigas como esta aos egípcios é arriscado - porque poderíamos não devolver as peças. Isso é embaraçoso.
Spiegel On-line: Esse assunto poderia colocar em risco a cooperação arqueológica entre Alemanha e Egito?
Hawass: Não, queremos a cooperação de longo prazo. Espero realmente encontrar uma espécie de solução satisfatória com Berlim.
Spiegel On-line: O Egito ainda está escavando em busca de outra rainha: Cleópatra. Essa pesquisa ainda prossegue?
Hawass: As escavações finais, que tiveram que ser adiadas por meses, serão retomadas no próximo domingo. O que encontramos até agora nos deixa esperançosos de logo descobrimos a tumba de Cleópatra e seu consorte Mark Antony. Mas realmente, devemos honrar os egípcios antigos de outra forma também.
Spiegel On-line: O que o senhor tem em mente?
Hawass: Para aumentar a consciência cultural, devemos incorporar o estudo da linguagem do Egito antigo e hieróglifos no nosso sistema educacional da mesma forma que europeus ensinam latim e grego antigo. Os alemães certamente poderiam nos ajudar com isso.
Tradução: Deborah Weinberg
FONTE: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2009/10/21/ult2682u1350.jhtm
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